quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O último suspiro...

Enquanto isso, numa cela de cadeia qualquer de um país inexistente, um estuprador suspira e desabafa inquietamente para o padre que o consolar enquanto ele marcha para a morte.
-Será que existe lugar no céu para um sujeito que só cometeu um erro na vida, padre? Quero dizer, eu sempre fui um sujeito controlado, que jurava ter o mundo nas mãos, mas aí de repente uma brisa leve e macia me tira toda a paciência e tranquilidade no mundo. Joana era o nome dela, uma moça linda como um pôr-do-sol, exalava uma paz interior de dar inveja até mesmo ao próprio Jesus Cristo...
-Meu filho, não blasfeme o nome de Cristo, nem mesmo como uma figura de linguagem.
-Perdão padre, eu sei que pequei, eu sei que errei. Mas quero saber o porquê de não me arrepender de ter feito o que eu fiz. Você já deve ter confortado milhares de condenados, então não faz diferença a minha história, mas sinto uma estranha vontade de lembrar ela. Como já disse, era um rapaz sereno, com toda uma vida pela frente, um futuro brilhante e uma saúde mental digna de uma divindade. Mas em um certo dia, uma bela moça aparece de repente na minha vida e acabo dando lugar aos meus instintos animais. Vou morrer em breve, mas isso não é motivo de tristeza, apenas de insatisfação...
-Filho, sempre há esperança de um futuro com Deus...
-Sim, mas padre, o desejo de tê-la, de possui-la, era maior que toda a minha fé, era um amor platônico que me levou à insanidade. Eu pensava ser completo, mas depois que a descobri, simplesmente perdi toda a razão da minha vida. Dizem que você "acorda estuprador", eu só consegui concordar com essa frase quando já era tarde demais. E depois que cometi tal ato grotesco, ainda tive a audácia de pedi-la em casamento, mas nada que ela falasse seria sincero, então que alternativa eu teria a não ser mata-la? Se você me permite padre, gostaria de ter um momento de solidão para poder entregar-me aos prantos. Pois assim, ao menos, eu gastarei minhas lágrimas, para na hora de minha morte não chorar, e enfim ter algo digno na vida.
Repentinamente um guarda chama o prisioneiro e o coloca na fila de fuzilamento. Um disparo ligeiro leva uma vida e um império construído com sangue e suor...

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