terça-feira, 1 de junho de 2010

O perfume dos mortos...

Ele estava dentro de um ônibus lotado, milhões de angústias, sofrimentos e cansaços se trombavam perante tantas pessoas. Era impossível não sentir empatia pelos demais passageiros, todos presos num engarrafamento típico de sua cidade, num frio exagerado de 10ºC. As conversas paralelas e cansadas ecoavam entre as paredes gélidas do ônibus...
Mas tinha algo que se destacava entre todos os outros detalhes, os perfumes variados. Alguns falsificados, outros de grandes grifes, e outros sem nenhum perfume exceto o da natureza. Entre tantos cheiros destaca-se o de girassois, que num determinado instante já tomara completamente o ar. Ele tinha certeza de que era o único que percebera o saboroso perfume de pétalas de girassol, já conhecia esse aroma de algum lugar, apenas não se lembrava de onde...
Foi quando um grande barulho ensurdeceu a todos, e finalmente o doce silêncio reinou perante todas as pessoas ali presentes. Um caminhão colidira contra um Golf prata, ele finalmente decidiu que era hora de descer daquele ônibus que poderia ficar parado mais alguns bons bocados. Foi ombrando todos até que finalmente chegou perto o bastante do acidente para poder vê-lo. Era uma bela moça, universitária de cabelos louros e pele branca. Ficou desnorteado quando percebeu que ela usava um vestido longo com girassois desenhados, achou apenas uma macabra coincidência.
Ele andou até a encruzilhada que era apenas a algumas quadras e pegou outro ônibus, pois este não demoraria mais do que quinze minutos até a casa dele...
No dia seguinte, sabendo que era feriado, ele decidiu ir até o cemitério da cidade. Procurou dentre os túmulos e nada achou, concluiu que ela deveria estar ora viva, ora numa necrópsia. Sentou-se ao lado de uma majestosa cripta colocou-se a pensar no rosto daquela garota. Passaram-se alguns minutos, e quando ele finalmente decidiu ir embora passou por um velório, o que tinha ele a perder? Lá foi em busca de matar sua curiosidade. Um caixão no meio de uma sala e apenas uma senhora chorando desconsolada. Finalmente ele foi se aproximando e um rosto foi se revelando, e lá estava ela pálida e falecida. Bela como da última vez que a vira, a maquiagem que a deram fez milagres, parecia que em poucos instantes ela se levantaria e sairia andando. Mas nada aconteceu...
Pouco depois ele novamente sentiu o macabro cheiro de girassois, o mesmo que sentira no ônibus...

2 comentários:

Maressa Machado de Morais disse...

=D bom conto, nossa, sua narrativa me prendeu até a última frase!

Lucas Dardenne disse...

^^